As narrativas sempre
exerceram grande fascínio sobre mim, sempre gostei de ouvir boas histórias
independentemente do canal usado para que chegasse a elas. E foi nessa minha
eterna busca por boas narrativas que, na semana passada, assisti – na verdade
mergulhei – na trama de um despretensioso filme chamado Trem Noturno Para
Lisboa.
O hipotético leitor deste
blog deve estar se perguntando: “por que ele está falando de um filme, sendo o
blog voltado para dicas de leituras”? Bem, antes de mais nada, um bom filme é
também uma boa narrativa (o que dá no mesmo quando comparado a um bom livro) e,
segundo, este filme em particular trata justamente do tema central desta página
que são... os livros. Portanto, vamos a ele.
A trama gira em torno de um
professor suíço, cuja a vida é sem qualquer traço de extraordinário. Ele é um
homem solitário e com uma vida tediosa (para dizer o mínimo) que, numa manhã
qualquer, vê sua vida completamente modificada ao salvar uma moça de uma
tentativa de suicídio. Atordoada e assustada, ela vai embora deixando sua capa
de chuva com ele, que ao tentar achar qualquer vestígio para encontrá-la, acaba
achando um livro de um obscuro escritor lusitano e uma passagem de trem para
Lisboa. No princípio ele tenta encontrar a suicida para lhe entregar seus
pertences, mas, atordoado com a leitura, que fala diretamente a ele, acaba indo
atrás do autor e sua história, num mergulho que vai alterar completamente o
rumo de sua existência.
Aparentemente uma trama
banal e até certo ponto piegas, além de um pano de fundo histórico cansativo e
exaustivamente batido – a resistência portuguesa à ditadura salazarista,
encerrada na década de 1970 – o que prende e é relevante na história é como um
livro pode ser um agente modificador na vida das pessoas, como podemos, de
repente, perceber o vazio de nossa existência, a fugacidade da vida, do tempo e
como esse objeto pode nos levar a mudar completamente o nosso rumo para algo
que realmente valha a pena lutar, por algo que faça sentido no fim das contas.
Ao largar tudo e se
embrenhar nessa busca sem qualquer certeza de êxito, esse homem, apagado, um
sujeito qualquer, que tem alguma pouca ou nenhuma relevância em seu convívio cotidiano,
dá novo brilho a sua própria narrativa, passa a reescrever sua biografia e
passa a perceber o quanto ela pode ser empolgante com coisas simples, porém,
valiosas, como um amor ou a busca por algo que lhe preencha.
O protagonista é preenchido
pelo triangulo amoroso e luta política que envolvem o autor do livro que o
fascina, seu melhor amigo e a namorada deste. Uma história de dor que vai
envolvendo esse professor que passa a fazer desta busca o único sentido para
sua vida. E essa busca o leva ao encontro dele mesmo, mostra o quanto sua vida
perdeu o sentido e como está ao alcance dele; e apenas dele, mudar essa
realidade.
Particularmente, fiquei
muito tocado por esse filme. Minha vida e escolhas foram guiadas muitas vezes
por livros que me provocaram essa catarse e me levaram a guinadas radicais,
muitas vezes dolorosas, mas sempre empolgantes e revigorantes por me fazer
perceber o quanto vale viver.
É um filme simples, singelo
e que mostra o poder dos livros. Não um livro especifico, mas um livro
qualquer, porque, na verdade, basta uma boa história, basta estarmos abertos e
um volume às vezes despretensioso vai fazer com que olhemos o mundo de outra
forma e esse novo olhar, provocado por um conjunto de frases e parágrafos que
saíram da cabeça de outro alguém também inquieto, fará toda a diferença em
nossas tão monótonas (em muitos momentos) vidas.
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