Nos últimos meses, ocorreram
uma sucessão de notícias muito parecidas e que vêm causando temor em alguns e
incompreensão em analistas de toda ordem no mundo todo: ataques terroristas na
Europa promovidos por muçulmanos. Nas últimas semanas, só para ficar nas mais
atuais, foram pelo menos três sérios na Alemanha, sem contar os atentados na
Bélgica e os acontecidos na França (Charlie Hebdo, Bataclan e Nice).
Conservadores mundo afora apontam esses atos como consequência da onda de
refugiados que força a entrada no continente, outros mais progressistas tentam
vender a ideia de que são radicais, lobos solitários que distorcem o Islã e sem
qualquer relação com os moderados. A verdade é que todos estão sem entender o
que anda ocorrendo no berço do Ocidente. Todos, menos um, o escritor Michel
Houellebecq. Autor do livro Submissão, obra que trata do tema de maneira sui
generis, ele conseguiu traçar um painel – cada vez mais real – do que aguarda a
França e de quebra o mundo ocidental.
Com um romance distópico,
seguindo a escola de Orwell e Huxley, Houellebecq descreve um França em 2022
elegendo o primeiro presidente muçulmano da Europa. Após uma aliança entre o
partido islâmico e os partidos socialista (Hollande) e republicano (François Fillon), a
aliança sai vitoriosa em cima do partido de Marine LePen, FN. Carismático e
moderado, num primeiro momento, o presidente não interfere na política
econômica ou em outros assuntos do país, mas interfere diretamente na educação.
Fazendo mudanças sutis, mas relevantes, aos poucos as universidades francesas –
representada na obra pela Sorbonne – começam a ditar como será a vida dos
franceses a partir desse ponto: mulheres com véus pelos corredores e depois
pelas ruas, aumento de postos de trabalho favorecido pela saída das mulheres
dessas frentes e ficando em casa e até mesmo a poligamia e pedofilia (o diretor
da Universidade casa-se com uma jovem de 15 anos) passam a ser aceitos.
Sendo narrado em primeira
pessoa, por François, professor de Literatura na instituição, ele é um homem
cético, irônico e descrente com a vida, alguém que vive numa espécie de limbo,
a parte da vida social. Através do olhar da personagem, o texto faz uma análise
apurada da política francesa, colocando de maneira irônica os caminhos tomados
pelos socialdemocratas e apontando o mal que o politicamente correto causa. O
tom sarcástico do narrador-personagem serve para expor as escaramuças políticas
em que a esquerda e centro-direita francesas colocam o povo e como isso
facilita a entrada dos islâmicos na cena política francesa.
Um fato interessante da
trama é justamente o tom analítico do protagonista e narrador. Como ele está
fora do jogo político e é apenas um cidadão comum que tem sua vida alterada
radicalmente por conta das mudanças, ele passa a tentar entender o que
aconteceu fazendo com que a narrativa tome um tom memorialista. Voltando cinco
anos no tempo (ao ano de 2017) ele remonta os acontecimentos que levaram a essa
situação. Por ser alguém que é levado pela maré, François acaba se rendendo ao
status quo, converte-se ao islamismo por conveniência e retoma suas atividades
como professor acadêmico. Sua apatia e adaptação a essa realidade é uma forma
de ilustrar o próprio povo francês com sua indiferença e aceitação com tudo que
está acontecendo.
O livro é visionário. Ele
traça um panorama que se fosse lançado há três ou quatros anos soaria
fantasioso e até ridículo, porém, com o crescimento das comunidades muçulmanas
formadas por nascidos em países europeus e que, por conta do volume
populacional cada vez maior, começam a impor a sharia nesses locais. Com a
chegada de refugiados, aumentando consideravelmente o número de islâmicos e
agora com o fortalecimento político deles com a eleição de um muçulmano
moderado para a prefeitura de Londres, fica evidente o quanto esse livro é
revelador e até profético, mais uma vez tendo uma distopia que, servindo de
alerta, acaba sendo usada como um manual. Até mesmo o fato de a esquerda
mundial abraçar o mal que pode acabar com Ocidente é mostrado no texto. Vale
lembra que, assim como no texto o partido socialista francês apoia o partido
muçulmano, o prefeito de Londres foi eleito pelo Partido Trabalhista da
Inglaterra, partido esse com o mesmo direcionamento do partido de Hollande ou
dos de esquerda no Brasil.
A realidade que se descortina
no horizonte e tenebrosa e precisa de uma solução iminente. O mundo como o
conhecemos, os valores que por séculos foram defendidos e praticados e que
levaram o mundo livre ser o que se tornou, um ambiente de liberdades
individuais e progresso, pode deixar de existir e é com a leitura cada vez
maior de obras como essa, que apontam de forma direta e sem melindres os
problemas e seus causadores da destruição da Europa e por tabela de todo o
Ocidente, que vai nos levar a enfrentar um mal assombroso e cruel. Fiquem com
Submissão de Michel Houellebecq e até a próxima.
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