NOVEMBRO DE 63 – E SE KENNEDY NÃO TIVESSE MORRIDO?


Um professor de Inglês, de uma escola do Maine, descobre uma passagem no tempo na despensa da lanchonete que frequenta que pode levá-lo a setembro de 1958. A pedido do dono do estabelecimento (seu amigo e que está morrendo de câncer) ele volta ao passado para impedir a morte de Kennedy, pois, segundo o cozinheiro, todos os problemas dos EUA ocorreram a partir desse momento.

Resumidamente, essa é a trama de mais um romance do mestre do suspense Stephen King. Tratando de viagens no tempo e com um enredo eletrizante e cheio de reviravoltas, o livro aborda os riscos de se mudar o passado e causar um dano ainda maior, ideia inspirada numa teoria chamada efeito borboleta. E eu poderia tratar de forma acadêmica o livro, mas como você, leitor, já deve ter notado, esse blog se presta a tratar das percepções e questões mais curiosas e pouco pretenciosas dos livros. Então vamos às minhas conclusões...

O que mais me atraiu na obra não foi nem a questão de mudar a história. A parte da viagem no tempo também é um tanto rocambolesca – divertida, é verdade, mas ainda assim rocambolesca – e requer um esforço criativo para engolir a forma que o sujeito volta ao passado (vocês entenderão o que digo ao ler o livro). O meu questionamento – que compartilho com vocês – é algo muito mais íntimo, tem relação com viagem no tempo, entretanto, nada que mude a história.

A pergunta que me fiz foi: o que você faria se pudesse voltar no tempo? Viver numa outra época? Se pudesse refazer a própria história num outro momento e se envolver na vida de outras pessoas ajudando-as? Ficaria tentado a interferir? E vivenciando tudo de forma intensa, quando chagasse a hora, voltaria?

Durante toda a narrativa, Jesse Epping/George Amberson se envolve na vida da cidade. Passa a lecionar na escola locar de Jodie, cidade do Maine onde passa a maior parte da trama enquanto se prepara para o plano principal que é salvar Kennedy. No período em que passa nesse local interfere na vida das pessoas: ajuda um atleta a desenvolver-se como artista, conscientiza um outro a parar de beber, ajuda mais uma aluna a conseguir uma cirurgia plástica reparadora e, principalmente, encontra o amor de sua vida.

Mas e aí? Ele é um homem fora do seu tempo, com uma missão a cumprir e que não pode contar a ninguém e qualquer ação ou movimento interfere no futuro – o efeito borboleta – de forma catastrófica, como é dito em muitos momentos: “o passado é obstinado e se harmoniza”.

E Amberson entra nesse dilema: voltar, ficar, seguir em frente em sua tarefa sem mudar de rota ou, algo ainda mais inusitado, cumprir sua missão e levar a mulher que ama para o seu tempo em 2012. Como seria a vida dessa mulher? Como alguém de meados do século XX, numa época em que o máximo de tecnologia é a tv viveria nesse mundo acelerado e individualista?

Da mesma forma que é difícil nos imaginarmos na posição de George/Jesse, alguém do futuro vivendo numa época que não é a sua, é muito complicado também a alguém desse passado saltar rapidamente a um futuro que até aquele momento, uma vida pré-Beatles, pré-rock, via todas as nossas ferramentas como algo de filme de ficção.


Outro ponto relevante da obra, partindo da ideia de viagem temporal e as mudanças que ocorreriam caso o passado fosse mudado, será que devêssemos realmente mudar nossas vidas dessa maneira? Será que valeria a pena mudar o passado, alternado assim nosso futuro de forma que, muitas experiências que tivemos, tudo que passamos a partir do ponto alterado? Levando-se em conta o fato de que somos fruto de nossas vivências, não seríamos mais os mesmos ao mudarmos os fatores que alterariam nossa história, não teríamos mais aquilo que faz de nós o que somos e não seríamos mais os mesmos. Será que o sacrifício de abrir mão do que e de quem somos justificaria qualquer ação nesse sentido?

É um livro despretensioso e com uma história de ficção com seus altos e baixos, mas que nos leva a pensar coisas que não pensaríamos em outras situações. E esse é o papel de um bom livro, trazer questionamento, mais profundos ou mais inusitados, como uma possível viagem no tempo. Até semana que vem.

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