Política sempre
foi um assunto que me interessou, tanto quanto Literatura. Não consigo,
inclusive, distanciar um do outro muitas vezes e alguns posicionamentos ou
reflexões feitas nessa seara eu tive após ler obras literárias relevantes. E foi
há um algum tempo (pouco tempo até) que ouvi de um colega de profissão (e da
mesma área que eu, Letras) que, resumidamente, ao tratar de temas da vida real,
a literatura torna-se irrelevante. Segundo ele, não podemos nortear nossa visão
de mundo pelo que lemos em obras literárias por ser ficção, essas narrativas
não dão contar de explicar a realidade ou temas mais mundanos como a política e
questões sociais. Logo pensei nessa saga que remonta e define a lenda de
Arthur, O Único e Eterno Rei.
Lançado em cinco
volumes, entre 1938 e 1977, e escrito por T. H. White, professor da universidade
de Cambridge, os livros contam a história do jovem Art, filho adotivo de um
nobre do interior da Inglaterra, que se torna o maior de todos os reis
britânicos, o lendário Rei arthur. Baseado e ampliado a partir do texto de
Malory e trazendo alguns outros personagens ingleses como Robin Hood (aqui
Wood) e Tristão, White narra de modo detalhado os principais eventos que marcam
a vida desse mítico personagem como a busca pelo Santo Graal, sua tragédia
particular no triângulo amoroso entre sua esposa e seu melhor cavaleiro
lancelot até sua morte na batalha contra seu filho Mordred. E qual a relação
entre a obra e o que disse no começo dessa coluna? Tudo.
Não me debruçarei
sobre a lenda ou a parte relacionada à personagem, o mito arturiano é um dos
maiores do Ocidente e está no imaginário popular não só da Inglaterra, mas de os
lugares que professam seus valores. O que vou falar é de como o autor abordou o
mito de Arthur e a época medieval com o momento histórico em que ele estava
inserido: o período da ascensão do nazi-fascismo e da 2ª Guerra Mundial.
Durante toda o
romance (pode ser chamado assim, já que os cinco livros se completam) White faz
analogias ao cenário político da época. Durante os ensinamentos de Arthur ainda
criança, através da magia de Merlin, o escritor vai usando a simbologia dos
animais, quase como uma fábula para apresentar a sua posição ideológica e dos
povos da Europa. Então temos teorias sobre o liberalismo clássico, discussões
sobre capitalismo, socialismo, questionamentos quanto à postura belicista dos
nazistas e, por todos os livros, mesmo com o pequeno Art já coroado, seus
pensamentos giram em torno do que acredita T H White, com clara inclinação ao
liberalismo inglês e ao capitalismo. Até mesmo a tomada de poder de Mordred é
uma referência ao fortalecimento político de Hitler e Mussolini.
Então, antes de
qualquer conclusão ou discurso para largar a ficção e fincar os pés na
realidade, lembre-se das lições do poderoso Merlin, que mostrou a Arthur o que
é preciso para ser um grande rei e para nós o que é preciso para ser um grande
indivíduo que busca preservar sua liberdade, acima de tudo, e o respeito aos
demais na mesma busca. Até a próxima.
Excelente trabalho sobre o rei Arthur !
ResponderExcluirObrigada
Mcroseiro