Algumas vezes,
quando pego um livro para ler o que busco é apenas entretenimento. Nada de
reflexões profundas, apenas me divertir com uma boa trama. Dois tipos de
narrativas atendem ao que busco nessas horas: policial e terror. Nessas minhas
férias escolares, em janeiro, revisitei um suspense que tinha se perdido nos
obscuros caminhos da minha memória e que me levou ao início da minha
adolescência. O filme inspirado nessa obra, eu vi quando era garoto. O filme, revi
num desses canais a cabo que passam filmes antigos e resolvi ler o romance. E
foi uma deliciosa experiência, ler sem compromisso intelectual, apenas pelo
mais puro divertimento. Então, sem mais delongas e embromações, vamos à obra,
Coração Satânico. Antes de falar dele, porém, faço a seguinte observação: o título
em português (Coração Satânico) mata completamente o jogo de palavras e ideias
presentes no título original (Falling angel), já entenderão por quê.
Um livro obscuro
escrito por um autor também obscuro e de um único sucesso - William Hjortsberg
- mais conhecido pela sua adaptação ao cinema com Mickey Rourke e Robert De
Niro, surpreende por ser um texto enxuto e sem pontas soltas, o que, para um
romance policial é muito importante. A história também é inusitada. Ambientado
em Nova York no final da década de 1950, relata um caso de investigação do
detetive particular Harry Angel. Veterano da segunda Guerra, Angel é contratado
pelo misterioso Louis Cypher para procurar e trazer o cantor de jazz John
Favourite, desaparecido desde a guerra e com quem Cypher tem uma pendência. Até
aí, tudo bem, Harry aceita o caso e sai em busca com as poucas pistas que
possui. Procura as pessoas que se envolveram com o músico na época para tentar
encontrá-lo, mas descobre que não será tão fácil assim. Conforme ele avança nas
investigações, descobre uma espiral de mistérios e mortes que rondam o nome de
Favourite e quando se dá conta, está sendo inclusive acusado de assassinato das
testemunhas.
A trama é
envolvente e, como disse anteriormente, não deixa pontas soltas. O que torna o
livro impressionante é a habilidade do autor em nos conduzir no mesmo ritmo que
o detetive Angel. As pistas e o próximo passo sãos revelados quando também os
são para o protagonista. Com um ritmo cadenciado e com forte influência da
literatura noir, o livro vai apontando para algo mais obscuro e sombrio. O
personagem começa a se ver envolvido com magia negra, santeria, e outros
rituais de invocação do demônio, além de possessão de almas.
Outro fato que
aguça a trama é o mistério também em torno do magnata que contrata Angel. A
todo momento parece que ele vai conduzindo Harry como uma marionete, levando-o
cada vez mais fundo no cerne do Mal puro. A todo momento tem-se a impressão de
que ele sabe de tudo ou que pelo menos esconde algo relevante para desvendar o
suspense. Aparecendo nos momentos mais oportunos e em situações inusitadas,
Cypher prende o leitor que passa a dividir sua atenção acompanhando o detetive
e tentando compreender esse homem tão sinistro.
De forma
magistral, o romance vai amarrando os nós ao desvendar cada ponto da verdade.
Vale dizer que o William consegue fazer com que só consigamos saber realmente a
verdade no momento em que Angel também a descobre e é algo desconcertante (não
darei spoiler) e que faz todo sentido para a narrativa, mas que é algo
inesperado e a surpresa de Harry Angel também é a nossa. E antes que me
esqueça, o que falei a respeito do título, sobre o jogo de palavras, está
relacionado ao protagonista. O anjo caindo aí tem pelo menos três relações: a
queda do detetive conforme vai desvendando a trama, o final (que não direi o
que é para não estragar) e com relação ao Louis Cypher. Portanto, leiam o livro
e descubram que quero dizer. Até a próxima e um forte abraço.
Comentários
Postar um comentário