Uma das coisas mais
interessantes na cultura é que uma obra, quando se torna relevante para uma
geração ou mesmo é eternizada como obra imortal, passa a ser cultuada e vira
fonte de inspiração em outras linguagens também. Uma dessas obras é o livro de
George Orwell, 1984, um dos romances mais influentes do século XX e o próximo
livro da série Livros para Ouvir. (https://play.spotify.com/user/kajotha77/playlist/4no2yNIyJ7YptP3P4iyujA)
Fonte das mais diversas
mídias – das histórias em quadrinhos ao cinema (V de Vingança), passando por
discos de artistas distintos como David Bowie, Dead Kennedys ou Iced Earth – a obra
é uma das maiores distopias do século passado e que, infelizmente, virou uma
obra quase profética dos nossos tempos. (trailer dos filmes nos links abaixo)
Escrito em 1948 pelo
escritor inglês, a trama narra um longínquo futuro em 1984 onde o mundo passa a
ser dividido em três grandes territórios: Oceânia (que engloba a Inglaterra, todo
o continente americano, África do Sul e países da Oceania), Eurásia (Europa
continental e Rússia) e Lestásia (países dos tigres asiáticos, China e Japão), que
vivem em conflitos entre si pelo controle do Oriente Médio a África saariana.
Toda a trama acontece na
capital Londres e o país vive sob o regime de um partido único, o INGSOG (sigla
para partido socialista inglês) e sob o governo ditatorial do Grande Irmão. Nessa
sociedade distópica, não há liberdade ou relações familiares, as pessoas vivem
em casas vigiadas a todo instante por teletelas e câmeras nas ruas. A verdade é
manipulada, a informação é controlada pelo Estado e até mesmo o significado das
palavras está sujeita a mudanças de acordo com os interesses do poder para que
as pessoas não consigam refletir.
E é nesse ambiente sufocante
que Winston Smith começa a tentar buscar a verdade sobre o Grande Irmão. Funcionário
do ministério da Verdade, órgão do governo responsável por reescrever a
História (o paradoxo é presente em toda a obra), ele começa a registrar
escondido seus questionamentos em um diário, algo proibido, tendo uma polícia
do pensamento para tolher qualquer ideia contrária ao que o Grande Irmão
deseja. Ao confrontar o poder vigente e cometer uma série de delitos, Smith é
preso e torturado por O’Brien, alto funcionário do governo. Ao ser solto, uma
lavagem cerebral é feita no protagonista e este passa a amar incondicionalmente
o Grande Irmão.
A trama é complexa e
dinâmica e seu quadro assustador acabou se concretizando com o passar dos anos.
Escrito para ser um alerta, acabou virando um manual de sobrevivência a esses
tempos e seu caráter premonitório torna a obra uma das principais já escritas
no Ocidente. Muito do que vemos no livro, com o tempo, virou realidade, as
teletelas, aparelhos de tv que transmitem e gravam informações (como as smarts
tvs, web cams ou smartphones), as câmeras vigiando as ruas (como as de
vigilância tanto dos órgãos públicos quanto as privadas) e principalmente, a
ideia de um Estado grande que controla os pequenos detalhes da vida de cada
indivíduo, está tudo lá e estamos vivendo tudo isso hoje.
Mesmo no cenário político
internacional não muda muita coisa. Ao vermos, por exemplo a questão da saída
do Reino Unido da União Europeia, está se tornando um bloco da Europa
continental (como é a Eurásia) ou mesmo a Inglaterra aproximando as relações
com os EUA e países desse lado do Atlântico (como o bloco de Oceânia),
percebemos que Orwell é praticamente um profeta dos nossos tempos.
Portanto, essa realidade não
poderia levar muitos outros artistas a serem influenciados e criar a partir
desse futuro tão sombrio quanto presente em nossos dias. Filmes como V de
Vingança – que foi baseado em uma história em quadrinhos homônima – ou álbuns inteiros
de artistas tão diferentes como Diamond Dogs, do David Bowie, e Dystopia, do
grupo Iced Earth, são vários os exemplos. Mesmo músicas isoladas em discos não
conceituais bebe nessa fonte: Califórnia Über Alles, do grupo californiano Dead
Kennedys é um bom exemplo.
O livro ainda é atual e sua relevância
está no fato de que o mundo acabou, infelizmente descambando para aquilo que Orwell
previu como o que poderia acontecer de mais funesto e pelas mais diversas
razões o livro não da lista dos mais vendidos em vários países do mundo. Então,
leiam o livro antes que seja tarde e ouçam os álbuns que ele inspirou. Até a
próxima.
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