ECOS DE FAUSTO E A HECATOMBE BRAISLEIRA



O que você seria capaz de fazer para ter o que deseja? Até onde iria? E o que desperta seu desejo? Poder, conhecimento, riqueza, o amor de uma bela mulher? Ou tudo isso junto? Esse é o questionamento que faço hoje, recorrendo à Goethe e sua obra-prima, Fausto, ao ver os últimos acontecimentos no Brasil, mais precisamente na política brasileira. Sou acompanhado nessa reflexão das bandas Agalloch (e sua Faustian Echoes) e Moonspell (com as canções Mephisto e Herr Speiegelmann), músicas essas inspiradas na obra para falar da obra e do que pensei a respeito.

Na obra, Deus e o Diabo apostam para ver se é possível corromper a alma do homem mais virtuoso da Terra. Esse homem é Fausto. Sábio, senhor de diversas ciências e de notório e vasto conhecimento, ele não se satisfaz com o conhecimento que possui e deseja fervorosamente mais conhecimento e melhor aparência, haja vista que já é um idoso e o tempo e a mocidade não são mais seus companheiros.

E para ter o que ele quer, mais tempo para conhecer mais e mais, para dominar mais ainda tudo que a humanidade produziu, Fausto faz um pacto com o mal, vende sua alma a Mefistófeles, demônio que lhe proporciona uma nova juventude para mais aprender. Para saciar seu desejo, Fausto é capaz de perder sua alma, para alcançar aquilo que deseja fervorosamente, ele se corrompe e se deixa seduzir pelo mal.

Mesmo ao se apaixonar por uma jovem virtuosa e fervorosa, que tem sua vida destruída por se envolver com o protagonista, Fausto não busca a redenção. Mesmo que a jovem, aos pés da morte entregando sua alma a Deus, Fausto não abre mão daquilo que tanto desejou, mesmo que isso o leve ao inferno. Não importa, ele conseguiu seu intento, mesmo custando sua alma.

E foi isso que pensei ao acompanhar as últimas notícias sobre a Lava-jato. Ao ver os nomes e a quanto tempo caciques, governantes, principais líderes políticos e todos os ex-presidentes vivos desde a redemocratização (não excluindo o atual) estão envolvidos com um esquema complexo em bem detalhado perpetrado por esses e a empresa Odebrecht desde a década de 1970 e principalmente desde a redemocratização.
Penso em Fausto quando percebo que nomes diversos e com variadas biografias, que provavelmente tiveram formação moral sólida (como o Alckmin, católico notório e praticante) ou outros nem tão devotos assim, foram capazes de vender seu nome, suas reputações, abriram mão de seus princípios por um desejo de poder, por um projeto de controlar vidas e enriquecer o máximo possível.

Penso na família Odebrecht, que buscou a riqueza desmedida e incalculável e para isso corrompeu duas gerações, pais e filhos, aliou-se aos tipos mais espúrios e canalhas, criaram um complexo sistema de roubo e negociatas ilegais em nome do desejo decrescimento da empresa, de poder e de caminho livre para o seu plano de prosperidade e eternização do seu patrimônio.

E quando penso em Margarida, aquela que teve sua vida destruída, que perdeu mãe, irmão, a própria vida, por conta do desejo desenfreado de Fausto. Margarida somos todos nós. Todos aqueles que tiveram suas vidas destruídas ou dificultadas devido aos serviços não prestados ou prestados precariamente, por todo o dinheiro desviado que poderia ajudar a quem realmente precisa, por todos os acachapantes impostos que nos arrancam quase tudo, como Mefisto arrancou a alma de Fausto, e impede que o país cresça, que as pessoas possam buscar uma melhora honesta e digna para si e faz com que sejamos jogados à nossa própria sorte.

Emílio e Marcelo Odebrecht venderam sua alma em nome de riqueza e prestígio. Lula, Dilma, FHC, Sarney e todos os demais que se corromperam, venderam suas almas em nome de um poder perpétuo. Assim como Fausto, foram às portas do Inferno em nome de seus desejos mais mundanos. Ao oposto de Jó, deixaram-se corromper pelo Mal que há entre nós. E nós, os indivíduo que batalhamos por nossa sobrevivência, que não abrimos mão de nossas almas e consciências, que esperamos a redenção no fim, assistimos assustados à hecatombe que assolou o país e o sacrifício da nação no altar da corrupção.


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