Acabo de ler mais uma
distopia simultaneamente à essa mobilização de greve geral marcada para dia 28
de abril. Com a massificação da manifestação sendo promovida pelos sindicatos,
usando como justificativa a reforma da previdência (reforma essa defendida pela
então presidenta Dilma e com um congresso que não mudou do seu mandato para cá)
e com a adesão irrestrita da grande maioria dos professores, não consegui
evitar uma analogia da obra com a mentalidade irreflexiva e repetidora de
ideias que prejudicam a nós próprios, mas que não conseguem enxergar por já
estarem imersos nessa ”lobotomização” ideológica.
Escrito entre 1920 e 1921
pelo escritor russo Yevgeny Zamyatin, ex-bolchevique e crítico do
regime soviético, a obra descreve uma sociedade do século XXX que abriu mão de
sua liberdade em troca de igualdade. Nela, as pessoas não possuem nomes e são
identificadas por números (os protagonistas são D-403 e a mulher que desperta o
seu interesse desencadeando tudo, E-330), vivem em quartos com paredes de vidro
transparentes aos olhos de todos, todos os horários e tarefas são definidos
pelo Estado e até mesmo um simples passeio na rua é controlado com hora certa e
como as pessoas devem andar.
É nesse ambiente que D-403
se vê envolvido num levante rebelde ao se apaixonar pela misteriosa e
envolvente E-330. Ao se perceber apaixonado pela jovem e não sabendo lidar com
algo fora da racionalidade, ele começa a entrar em conflito consigo mesmo pois
acredita cegamente no discurso do Grande Benfeitor e no Estado Único, que
proporcionou essa felicidade simples ao tirar todas as liberdades individuais.
O livro como um todo tem muitos traços com obras como 1984, Admirável Mundo
Novo e Cântico (o primeiro e o último forte e oficialmente influenciado pela
obra).
Quando comecei a ler a obra
fiquei com a ideia de falar justamente sobre a relação indivíduoXcoletivo, mas
ao ver o comportamento de colegas essa semana e até a postura de escolas
privadas – tão prejudicadas em suas rotinas por conta de uma carga de regras e
tributações que faz com que seja um ato heroico manter uma escola – defendendo algo
que tolhe suas liberdades, prejudica seus ganhos e ainda prejudica aqueles que
mais precisam hoje: os alunos. Eles vendem a ideia de que lutam por aqueles a
quem mais prejudicam.
Assim como as personagens da
obra que em dado momento abrem mão até mesmo da sua racionalidade numa operação
de lobotomia, a qual se submetem voluntariamente, os profissionais de ensino
abrem mão de ganhos maiores, de melhor mercado de trabalho, de um mercado
aberto com oportunidade a todos os que se dedicam verdadeiramente a ensinar, em
troca de “benefícios” que estrangulam os salários, encolhem o mercado, criam um
ambiente hostil para quem inicia a carreira e lutam para manter tudo que mais
prejudica à categoria em particular e aos outros trabalhadores de modo geral.
E vão repetindo as falácias
dos sindicatos, que intimidam aqueles que não se igualam ideologicamente,
intimidam escolas com ameaças de processos trabalhistas. Vão atrapalhando a
vida dos alunos que precisam adquirir conhecimento e são aliciados a abraçarem
uma causa que não é sua e que vai prejudicá-los num futuro bem próximo e atrapalham
os pais lhes causando danos até mesmo financeiros em alguns casos.
Na obra, o protagonista é
submete forçosamente a passar pela cirurgia, muitos vão por conta própria. Assim
é aqui no mundo real, na nossa distopia diária, aqueles que não apoiam esse
tipo de extorsão são obrigados a aderir o por que a escola não funcionará ou
por que o meio de transporte que usa adere. O segundo caso é o meu. São trabalhadores
que ignoram a realidade, são pessoas com formação e que, em tese, são
formadores de conhecimento, mas que ignoram algo básico: a realidade, e lutam
por seus maiores algozes com um amor devocional de um acólito. Sim, meus caros,
continuo a repetir que vivemos uma distopia, a mãe de todas elas e assim como
as demais esse foi mais um alerta que se tornou profecia ou manual de conduta
sombrio. Até a próxima.
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