Uma frase marcou essas duas
últimas semanas e foi dita por Emílio Odebrecht em sua delação premiada. Ele
disse (parafraseando o General Golbery) que Lula era um bom vivant, que gostava
do que é luxuoso e refinado. Fiquei com essa frase na cabeça e lembrei de mais
uma obra de Orwell (tão premonitório), mais precisamente seu final: Revolução
dos Bichos, inspiração do décimo álbum da banda Pink Floyd (Animals) e dessa
semana na série Livros Para Ouvir.
Publicado em 1945, a
obra é uma fábula de contornos políticos e que critica regimes totalitários em
geral e duramente o de Stálin e o comunismo em particular. No livro, os porcos
Napoleão e Bola de Neve – respectivamente Stálin e Trotsky – lideram os demais
animais da fazenda onde vivem numa revolução que expulsa os humanos. Tendo sete
diretrizes de teor igualitário (1. Qualquer coisa que ande
sobre duas pernas é inimigo; 2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou
tenha asas, é amigo; 3. Nenhum animal usará roupas; 4. Nenhum animal dormirá em
cama; 5. Nenhum animal beberá álcool; 6. Nenhum animal matará outro animal; 7.
Todos os animais são iguais) no começo, com o passar do tempo, descamba para
uma ditadura totalitária controlada por Napoleão – tendo, inclusive, ordenado a
morte do Bola de Neve – e os demais porcos, seus aliados e mantendo os outros
animais na mesma condição de miséria e dominação, num estado pior do que na
época dos humanos enquanto eles passam a viver no luxo e conforto da sede da
fazenda, descumprindo as próprias ordens.
No fim da narrativa, os
porcos já estão negociando com os humanos, mudam as diretrizes para apenas uma
(o título da coluna) e – como é percebido pelos outros animais – passam a andar
em duas patas, vestir-se com as roupas dos humanos e a negociar com eles. A última
cena do livro descreve a semelhança entre os porcos e humanos, não sendo
possível diferenciá-los uns dos outros.
E foi nisso que pensei ao
ouvir a fala do patriarca da empresa. Lula e o PT são os porcos da narrativa. Eles
passaram trinta anos defendo a ética, alegando uma luta pelos trabalhadores e
mais pobres, defendendo os interesses dos mais fracos contra os patrões,
grandes vilões do país e responsáveis pela miséria do povo. Foram eles que se
levantaram nos anos de 1970 para falar em nome de todos os operários e em nome
de cada trabalhador desse país que lutava para sustentar suas famílias. E muitos
acreditaram nele. Eu acreditei nele. Cresci vivendo o sonho do grande partido
que lutava pelos mais pobres e sendo eu filho de retirantes aqui no Rio de
Janeiro, fui seduzido por eles. Como eu, muitos acreditaram e lutaram por esse
sonho. Nós, os crédulos, pobres sonhadores, aqueles que buscavam uma vida mais
digna, éramos os animais da fazenda, a grande massa de manobra, os idiotas
úteis (como diria o Velho Major, porco que inspirou Napoleão e baseado em
Lênin).
E assim como os
porcos, eles traíram aqueles que diziam defender. O mesmo que levantava a voz
contra empresários e patrões sentava à mesa deles para se regalar com eles.
Lula, o homem mais impoluto do Brasil, que se dizia o grande defensor dos
trabalhadores, traía a todos desde sempre. Vendeu companheiros de luta que
acreditaram nele, recebia uma mesada vultosa daqueles que jurara combater e com
o passar dos anos, ficou cada vez mais difícil diferenciá-lo dos donos de empreiteiras,
banqueiros ou megaempresários. Assim como Napoleão, foi capaz até de mandar
matar aqueles que se puseram no caminho do seu projeto de poder. E como os
porcos, ele hoje age como se seguisse o lema da fazenda: “Todos os animais são
iguais, mas uns são mais iguais que os outros”. Coloca-se acima da lei e sai
por aí soltando bravatas e desafiando a justiça. A sua megalomania é paralela
ao do personagem principal do romance de Orwell, sua gana por poder é
incontrolável e diabólica e assim como os porcos do livro, é capaz de chafurdar
na lama e na sarjeta para conseguir chegar onde quer.
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