Uma curiosidade que sempre
tive, com relação a personagens que me marcam, é o rumo que suas vidas levaram
após as ações que os tornaram notórios. Um desses personagens que sempre quis
saber o que aconteceu em sua vida é Dan Torrance. Quando o conheci, ele tinha 6
anos, estava isolado no Hotel Overlook e era perseguido por um pai alcoólatra
que tentava mata-lo e a sua mãe. Isso foi no livro O Iluminado, de Stephen King
(olha eu voltando ao mestre do terror e suspense!), um dos dois livros que mais
me assustaram na vida. E eis que o autor sacia minha curiosidade e lança a
continuação do romance, Doutor Sono e essa é a dica da semana.
O livro conta o que
aconteceu a Danny Torrance, sobrevivente do Overlook. Agora adulto e com seu
dom ainda poderoso, Torrance acaba seguido os passos do pai e se afunda no
álcool para apagar sua luz interior. A diferença das histórias e que vai pautar
a diferença entre pai e filho é o fato de Danny – agora Dan – começar a
frequentar o AA e passar a trabalhar numa casa de repouso para idosos onde ele
os ajuda a morrer de forma tranquila.
Claro que o livro não é só
redenção e paz. Dan se vê envolvido numa trama para ajudar uma garotinha de
treze anos, que assim como ele, tem essa luz interior ou essência e que vira
alvo de um grupo de andarilhos sobrenaturais, uma espécie de vampiros
psíquicos, que sobrevivem absorvendo essa essência de crianças após
tortura-las. Diferente do primeiro, mais claustrofóbico e assustador, Doutor
Sono tem uma inclinação maior para o suspense, porém, ser menos assustador não
é ser menos envolvente e intrigante.
Falar da escrita de King –
principalmente para que acompanha essa coluna – é ser redundante, já falei
muito sobre sua escrita. O que vale ressaltar é como a trama foi trabalhada e o
que torna o livro um dos melhores que ele escreveu nos últimos tempos. Já de
início, descobrimos o que aconteceu ao garoto depois do incidente da obra
anterior. Como ele aprende a usar suas habilidades, entende o dom que possui,
descobre que o que aconteceu no hotel não acabou com sua explosão, os fantasmas
que tentaram mata-lo continuaram a lhe assombrar e, por essa razão, ele acaba
seguindo o caminho dos bares igual a seu pai, Jack Torrance.
Mas, diferentemente do seu
algoz e pai, Dan procura ajuda. Essa ideia faz relação para fazer o leitor dos
dois livros pensar no que poderia ter acontecido a família Torrance se Jack
tivesse buscado ajuda e não tentado se livrar do vício sozinho.
Por conta disso, o texto
torna-se mais leve, com algumas pitadas de humor e mais esperançoso também.
Apesar do suspense e da tensão por conta do Verdadeiro Nó – os fantasmas, ou
vampiros, da vez – e da perseguição a jovem Abra Stone, iluminada e com um
poder extremamente forte.
O modo como King interliga
as sub-tramas até culminar numa única narrativa também é um ponto a favor dele.
Ele vai contando histórias paralelas e que tomam o período que abrange os anos
de 1977 até os dias atuais mostrando como foi a trajetória de todos os
envolvidos até seus caminhos se cruzarem fazendo com que não seja absurdo ou
incoerente estarem todos na situação em que se encontram no ponto chave da
obra. E tudo é feito com muito cuidado para que não fiquem pontas soltas e tudo
é entregue ao leitor na hora certa mantendo o suspense até o momento crucial
(com direito a revelações bombásticas, mas coerentes e surpresas
impressionantes).
E um outro ponto bacana na
obra é a auto-homenagem sem ser autoindulgente. Como já disse aqui em outra
coluna sobre uma obra dele (Novembro de 63), ele costuma citar as próprias
obras interligando seu universo, já que é ambientado na mesma região, o Maine.
Mas dessa vez, as referências não são tão óbvias e é preciso ser um conhecedor
de suas narrativas para curtir as referências. Citações de cidades e
similaridades de personagens a comportamentos e cenas que remetem a outras
obras acabam funcionando como uma assinatura, a marca de Stephen King, como
aqueles pintores que colocam sua fisionomia em algum personagem de uma cena
pintada ou a assinatura num canto do quadro.
Então, deleitem-se com a
vida de Dan Torrance, assustem-se com o Verdadeiro Nó e vibrem com abra Stone
nessa continuação digna do seu antecessor. E fiquemos por aqui, com a dica da
semana e volto para a minha próxima leitura e próxima coluna. Até breve.
Comentários
Postar um comentário